segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As ofertas dos Reis Magos

Os Reis Magos chegaram e depois partiram até ao próximo ano. Mas, deixaram-vos três contos de Natal para vocês lerem até ao Carnaval.

Um bem antigo, escrito há muito tempo, um que retrata uma realidade bem presente e o último que vocês poderão ler se o procurarem... :-)







Conto: A Pequena Vendedora de Fósforos
Autor: Hans Christian Andersen

"Que frio tão atroz! Caía a neve, e começava a escurecer. Era dia de Natal. No meio do frio e da escuridão, uma pobre menina passou pela rua com a cabeça e os pés descobertos.
É verdade que tinha sapatos quando saíra de casa mas não lhe serviram por muito tempo. Eram uns chinelos enormes que sua mãe já havia usado: tão grandes, que a menina os perdeu quando atravessou a rua correndo, para que as carruagens que iam em direcções opostas não a atropelassem.
A menina caminhava, pois, com os pezinhos descalços, que estavam vermelhos e azuis de frio. Levava no avental algumas dúzias de caixas de fósforos e tinha na mão uma delas como amostra. Tinha sido um péssimo dia: nenhum comprador havia aparecido, e, por conseqüência, a menina não havia ganho nem um centavo. Tinha muita fome, muito frio e um aspecto miserável. Pobre menina! Os flocos de neve caíam sobre seus longos cabelos loiros, que encaracolavam graciosamente junto ao pescoço, porém, não pensava nos seus cabelos. Via a agitação das luzes através das janelas; sentia o cheiro dos assados por todas as partes. Era dia de Natal e nesta festa pensava a infeliz menina.
Sentou-se num cantinho entre duas casas. O frio se apoderava dela e inchava seus membros; mas não se atrevia a aparecer em sua casa; voltava com todos os fósforos e sem nenhuma moeda. Sua madrasta a maltrataria, e, além disso, na sua casa também fazia muito frio. Viviam debaixo do telhado, a casa não tinha tecto, e o vento soprava ali com fúria, apesar das aberturas maiores terem sido cobertas com palha e trapos velhos. Suas mãozinhas estavam quase duras de frio. Ah! Quanto prazer lhe causaria aquecer-se com um fósforo!
Será que ela ia ter coragem de tirar um fósforo do molhinho, acendê-lo e aquecer os dedos? Claro que sim! Tirou um! Rich! Como iluminava e como a aquecia! Tinha uma chama clara e quente, como de uma velinha, quando a rodeou com sua mão. Que luz tão bonita! A menina acreditava que estava sentada à beira de um fogão de ferro, enfeitado com bolas e coberta com uma capa de latão reluzente. Ali o fogo brilhava de uma forma tão linda! Aquecia tão bem!
Mas tudo acaba no mundo. A menina estendeu seus pezinhos para aquecê-los também, mas a chama apagou-se: não havia nada mais em sua mão além de um pedacinho de fósforo. Riscou outro, que acendeu e brilhou como o primeiro; e ali onde a luz caiu sobre a parede, fez-se tão transparente como uma véu. A menina imaginou ver um salão, onde a mesa estava coberta por uma toalha branca resplandecente com finas porcelanas, e sobre a qual um perú assado e recheado de trufas exalava um cheiro delicioso. Logo teve a ilusão de que a ave saltava de seu prato para o chão, com o garfo e a faca cravados no peito, e rodava até chegar a seus pézinhos. Mas o segundo fósforo apagou-se, e ela não viu diante de si nada mais que a parede impenetrável e fria.
Acendeu um novo fósforo. Acreditou, então, que estava sentada perto de um magnífico presépio: era mais bonito e maior que todos os que havia visto aqueles dias nas vitrines dos mais ricos comércios. Mil luzes ardiam nas árvorezinhas; os pastores e pastoras pareciam começar a sorrir para a menina. Esta, maravilhada, levantou então as duas mãos e o fósforo apagou-se. Todas as luzes do presépio apagaram-se e ela compreendeu, então, que não eram nada mais além de estrelas. Uma delas passou traçando uma linha de fogo no céu.
Isto quer dizer que alguém morreu — pensou a menina; porque sua avozinha, que era a única que havia sido boa com ela, mas que já não estava viva, lhe havia dito muitas vezes: "Quando cai uma estrela é porque uma alma sobe para o trono de Deus".
A menina ainda riscou outro fósforo na parede, e imaginou ver uma grande luz, no meio da qual estava sua avó em pé, com um aspecto sublime e radiante.
— Avózinha! — gritou a menina. — Leve-me com você! Quando o fósforo se apagar, eu sei bem que não a verei mais!

Depois atreveu-se a riscar o resto da caixa porque queria conservar a ilusão de que via sua avó, e os fósforos arderam com uma tal luz que estava mais claro do que de dia. Nunca a avó lhe havia parecido tão grande nem tão bonita. Pegou a menina nos braços e as duas subiram, no meio da luz, até um lugar tão alto, onde não fazia frio, nem se sentia fome, nem tristeza: até o trono de Deus.
Quando raiou o dia seguinte, a menina continuava sentada entre as duas casas, com as faces vermelhas e um sorriso nos lábios. Morta, morta de frio na noite de Natal! O sol iluminou aquele terno ser, sentado ali com as caixas de fósforos, das quais uma havia sido riscada por completo.
— Queria aquecer-se, a pobrezinha! — disse alguém.
Mas ninguém podia saber as coisas lindas que havia visto, nem em meio de que esplendor havia entrado com sua idosa avó no reino dos céus."




O segundo conto está aqui incompleto. Se o quiseres ler todo terás de procurá-lo na Biblioteca Municipal.


Conto: O Primeiro Natal em Portugal
Obra: Há sempre uma estrela no Natal
Autor: Luísa Ducla Soares


"É véspera de Natal. Mas não para Irina. Para ela só será Natal a 7 de Janeiro, quando as aulas tiverem recomeçado.
A mãe aproveita umas horas extra, na pastelaria, para preparar fornadas de bolos-reis.
O pai, antes de sair, marcou-lhe páginas e páginas de trabalhos de casa. É preciso, para poder acompanhar os colegas.
Folheando o dicionário, a pequena ucraniana procura as palavras portuguesas que há-de escrever em frente das que tão bem conhece.
Tudo diferente! Até o abecedário... Na escola, os outros fazem pouco dela e chamam-lhe "língua de trapos".
Que quererá isso dizer?
Vai à página 190, logo em seguida à 293. Era de calcular...
Tem, no entanto, orgulho em ser a melhor a matemática. Ninguém a bate em contas. Quando a professora entrega os testes e lhe dá vinte, há sempre um grupinho irritado que, no recreio seguinte, se junta, numa roda, à sua volta, cantarolando:
Irina, Irina, Irina,
que menina tão fina!
Tem cara cor de sal,
olhos cor de piscina,
cabelos cor de margarina.
Ai, doem-te as saudades?
Vai tomar aspirina.
Na Ucrânia deixou tantos amigos...
Evita aqueles olhos escuros que se fixam nela, uns curiosos, outros trocistas, outros indiferentes. Sente-se como uma extraterrestre. Porque é que os pais a mandaram vir? Isola-se no recreio, a um canto, tentando desvendar a algaraviada das conversas. Às vezes, o Afonso murmura-lhe ao ouvido um segredo:
- Pareces uma fada!
E foge logo a correr.
Que palavrão será "fada"? Nem vale a pena procurar no dicionário. Algumas palavras que lhe dizem nem sequer lá vêm. A princípio ainda perguntou à mulher da limpeza o que significavam mas ela empurrou-a com a esfregona.
- Ordinária! Estes imigrantes mal sabem falar mas fixam logo a porcaria... Porque não voltam para o sítio de onde vieram?
Com lágrimas nos olhos, Irina vai agora à janela e vê as luzinhas acender e apagar nas árvores despidas. Por trás das paredes deslavadas das velhas casas, decerto se celebra a consoada. Como será?
Doze pratos se punham na mesa de festa no Natal da sua terra. Uma em memória de cada apóstolo. É Natal em Portugal. Que interessa? A família está dispersa. A mãe a fazer bolos-reis que não vai provar porque para os ortodoxos é tempo de sacrifício e jejum. O pai lá anda, na construção civil. Como mais ninguém queria trabalhar na noite de 24, foi, sozinho, pintar um café que está a ser remodelado, ao fundo da rua. Os dois irmãos mais novos ficaram em Priluki, lá longe, com a avó.
Irina aquece a sopa e arranja uma sandes de queijo.
Como pesa o silêncio!
De repente, sente um grito abafado no andar de cima.
Algum assalto? Alguém que caiu? Não sentiu passos nem baque de uma queda...
Com o coração a bater, põe-se a espreitar pelo óculo. Nada!
- Acudam! Acudam!
Mais ninguém se encontra no prédio. As lojas do rés-do-chão estão fechadas, os vizinhos do primeiro andar foram de férias. Por cima, na mansarda, mora uma rapariga nova, gorda, pálida. Irina abalança-se a subir. A porta encontra-se apenas encostada e a miúda entra, a medo. Já ninguém grita.
Um gemido fraco ecoa ao fundo do corredor.
Haverá feridos? Tem horror ao sangue. Por um momento, pensa em voltar para trás. Mas prossegue, pé ante pé, até ao quarto. Deitada na cama, a moça, que ela conhece de vista, geme, agarrada à barriga enorme. Irina aproxima-se, repara que está alagada em suor.
- Ladrão atacar tu? Estar doente?
Tremendo, a outra responde:
- Chama o 112. O bebé vai nascer.
Que será o 112? Estará ela a delirar? Quase desfalece.
Então Irina precipita-se pela escada abaixo. A rua encontra-se deserta. Não conhece ninguém nas redondezas. Corre até ao café onde o pai está a pintar paredes.
- Pai, pai! - grita ela.
Anton desce do escadote, pousa o rolo, inquieto ao ver a filha naquela aflição.
- Que foi? Aconteceu alguma desgraça?
Mal sabe o que se passa, marca um número no telemóvel, dá a morada, pede urgência. Segue-a em passo apressado. Sobre eles desaba uma chuva gelada. Ficam com os cabelos a escorrer, encharcam os sapatos nas poças que, num instante, se formam.
Chegados ao prédio, o ucraniano galga os degraus dois a dois, entra sozinho no quarto da vizinha. A filha fica à espera.
- Irina, ferve uma panela de água. Traz-me um frasco de álcool, uma tesoura, toalhas.
A miúda obedece, confusa.
- Traz-me roupa lavada, para me mudar!
O pintor despe o fato-macaco, sujo de tinta e de pó, na casa de banho, enfia uma camisa branca, umas calças desbotadas. Esfrega as mãos e a tesoura com álcool.
- Irina, a água já ferve?
De novo no quarto, fala pausadamente com a rapariga, em voz alta. Ouve-se tudo cá fora.
- Força! Coragem! Está quase...
De súbito ouve-se o choro de um bebé.
- Entra, Irmã - diz, pouco depois, o pai.
- Vem ajudar. Já és crescida.
Entrega-lhe o recém-nascido. A rapariga, na cama desalinhada, sorri.
- Embrulha-o num xailinho. Está na gaveta do meio. Irina aconchega aquele corpo tão pequenino e frágil. Embala-o devagarinho, como fazia com as bonecas. Uma minúscula mãozinha aperta então o seu polegar.
O alarme de uma ambulância apita. Pára à entrada do edifício. Duas enfermeiras precipitam-se pela porta dentro.
- Então, viram-se atrapalhados? Um parto faz sempre confusão, principalmente aos homens.
- Sou médico - confessa o ucraniano. - Mas, em Portugal, ando nas obras...
As enfermeiras cruzam um olhar subitamente triste. Examinam a criança.
- O bebé nasceu no dia de Natal. É o nosso Menino Jesus. A mãe olha para o homem e pergunta:
- Como é que o doutor se chama?
- Anton.
- António? Quer ser o padrinho? Vou pôr-lhe o seu nome. As enfermeiras levam a rapariga e o bebé para a ambulância.
- Vão dar um passeio até à maternidade. Estão ambos óptimos.
- Manhã nós visitar! - exclama a garota."

O terceiro conto está na Biblioteca da nossa escola, onde existem vários exemplares.
Chama-se "O meu primeiro Natal", foi escrito por Margarida Fonseca Santos e se o quiseres conhecer terás de o procurar.

Boas leituras!

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